A Felicidade é como o tempo

O dia tem 24 horas, e em apenas 2 minutos tudo pode acontecer. Mas há dias que se arrastam e que 2 minutos são também uma eternidade.



Lembro-me do dia em que me casei, como se fosse hoje. Eu tinha o vestido mais bonito do mundo, o meu futuro marido estava deslumbrante. Um homem que está habituado a andar de ténis, estar de fato, é sem dúvida outra coisa. O meu pai acompanhou-me ao altar, acho que também se orgulhou de ver a sua filha casar. A minha mãe chorava, chorava e limpava as lágrimas. Dizia ela que assistir a um casamento lhe dava para chorar, até parece coisa de novela. Coisa de novela era também ver os meus sogros, ver como estavam a fazer um frete por terem que estar sentados na primeira fila a assistir ao casamento do seu filho com uma "empregada de andares de Hotel", como eles diziam.
Mas isso foi apenas um grão de areia neste grande dia, pois tinha comigo os que mais queria, no dia mais feliz da minha vida e ia iniciar uma família com o homem da minha vida.
Passado dois anos, em Coimbra, eu trabalhava como Governanta e ele trabalhava numa escola daqui, onde conseguiu ficar efectivo. Conversámos e decidimos: estava na hora de aumentar a nossa família. Não foi preciso muito para um mês depois ter a confirmação: Estava grávida. Agora íamos estar 9 meses a espera da nossa estrela. Tinha a certeza que ia ser um filho muito amado, ia ser a nossa luz. O meu marido fazia questão de dizer a todos os nossos amigos que ia ser pai. Aos 3 meses, ele preparou sozinho um jantar, na nossa casa, chamou os meus pais, os pais dele, o meu irmão. Eu cheguei a casa, por volta das 19 e deparei-me com toda a família. E ele só disse, com um sorriso de orelha a orelha: "Agora podes contar!". Perante a minha perplexidade, o meu irmão atirou: "Conta de uma vez que este teu marido tem-nos aqui desde às 5 a tua espera.". Eu olhei para o meu marido, ele vez o seu olhar mais doce e sorriu anuindo com a cabeça que podia seguir. Olhei para os meus pais, que estavam com ar de quem já sabia o que se passava, e olhei para os meus sogros que transmitiam o seu olhar inflexível, distante, sem interesse do que eu poderia dizer.
"Estou grávida", gritei. Os meus pais correram até mim. A minha mãe desmanchou e começou a chorar e a dizer: "Eu sabia, eu sabia. Ai que vou ser avó". O meu pai esfregava-me a barriga. O meu irmão cumprimentou o cunhado. Os meus sogros mais uma vez achavam que aquilo não era futuro para o filho, mas cumprimentaram e desejaram felicidades.
E num instante eu estava na sala de parto. Não quisemos saber o sexo do nosso bebé, fiz as ecografias necessárias, e a gravidez correu lindamente, assim como o parto. Disseram os médicos que fui uma grávida exemplar. Foram três dias de hospital e lá fui para casa. O nosso menino iria chamar-se Pedro, tinha cabelo loiro, olhos azuis e era muito pequenino, mas depressa desenvolveu-se. Mas chegou a altura de voltar a trabalhar e contratamos uma senhora para ficar com o nosso Pedro. Foram difíceis os primeiros dias longe dele, tinha muitas saudades, mas os dias foram passando, fizemos o baptizado do Pedro e apesar de só haver momentos bons a contar, num instante ele já estava a entrar para o primeiro ano. É verdade, o meu filho já tinha 6 anos. Ele gostou tanto do primeiro dia de escola, contou tudo, ao jantar a mim e ao pai. Estávamos tão felizes. No dia seguinte fui para o trabalho e o meu chefe queria falar comigo. Disse-me "O Hotel está a passar por uma má fase e temos que reduzir pessoal, tenho imensa pena, mas não lhe vamos renovar o contrato". O contrato que acabava em menos de um mês. Ao chegar a casa, nesse dia, o meu marido notou, "Que se passa?" e eu comecei a chorar, e entre soluços expliquei que tinha sido despedida, que em menos de um mês estava desempregada. Como sempre apoiou-me, abraçou-me e deu-me um beijo. Fui tomar um banho e quando voltei já tinha a mesa posta, e o jantar com um cheiro único, e lá vinham os meus dois homens de avental e de tachos na mão. Foi tão divertido que valeu pelo dia péssimo que passei. A verdade é que foram sempre momentos destes que nos levaram a não termos discussões e de acreditar e confiar uns nos outros. Havia respeito e sempre uma forma de animar-nos.
Num instante chegámos ao fim do mês, e a maldita crise, que ia chegando, chegou mesmo. O meu marido ia deixar de dar aulas naquela escola, mas pior é que não tinha sido colocado noutro lugar. Agora ficamos os dois sem emprego. Como iríamos viver? O que seria do Pedro? Depois de mais um jantar divertido, desta vez organizado por mim, deitamos o Pedro, e fomos conversar, para pensar e saber o que fazer. Nada decidimos nessa noite, nem nas seguintes. A verdade é que chegou a esse momento e sem nada que nos levasse a ficar em Coimbra, fomos viver para Santa Comba Dão, terra dos meus sogros e apesar de ter medo da reacção deles, sei que o meu marido ia ficar sempre do meu lado. Mas foi a solução que arranjamos, pois assim o meu marido pôde trabalhar na empresa de um amigo do pai dele. Mas daqui para frente as coisas não foram tão cor-de-rosa. O trabalho do meu marido não durou muito pois a empresa, com a crise, sempre a crise, acabou por fechar, e eu, por mais que procurasse emprego não encontrava. Cheguei a pensar que a minha sogra, como é vila pequena, tivesse falado algo para eu não conseguir nada. Sei que sem o emprego do meu marido as coisas foram ficando negras. Recebemos uma notificação do tribunal que dizia que tínhamos uma audiência para que o Pedro nos fosse retirado e foram 6 meses até que ele nos fosse retirado. Como é possível um filho ser retirado aos pais? Alegaram falta de condições em casa para nos ser retirado e nós tivemos que escolher algum familiar em condições para onde o Pedro fosse viver. Apesar de ser contra, ele foi viver para os meus sogros. Era a família mais cerca que tínhamos e os meus pais não podiam pois o meu pai tinha tido um AVC, ligeiro, mas que levava a minha mãe a ter de tomar conta dele, e o meu irmão ainda vivia com eles. Engoli o choro, e  expliquei a situação ao Pedro. Ele entendeu, e hoje, depois de 2 anos, 3 meses e 2 dias, ele ainda vive com os meus sogros e todos os Domingos vamos lá até casa dos meus sogros para ver o Pedro. Mas não desisti e não desisto e o Pedro ainda vai voltar para casa dos pais, pois só aqui ele pode ser feliz.

Comentários

  1. Uma tristeza profunda, menina!
    Confesso que me vieram as lágrimas, pois não sou mãe, mas deve ser muito difícil ficar longe dos filhos... Mas tudo há de melhorar. Pense sempre nos momentos de felicidade para superar os momentos não tão felizes assim.
    Um grande abraço e forças...

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