A máscara da Vida

O tema que hoje me leva a escrever não é fácil de contar. Mas a verdade é que, com vergonha, tenho de confessar que pequei.


Nasci no meio de uma família bastante tradicional. O meu pai não admitia que num domingo tivéssemos algum compromisso às 10 da manhã que não fosse ir a missa, e, por isso, desde pequeno fui ensinado a dirigir-me a Igreja. Com o passar dos anos fui descobrindo o meu ser. Em casa, na escola, na catequese e sentia-me diferente, sentia que algo não estava bem comigo. Aos 17 anos já pretendia ir por este caminho da Igreja e ser padre, ordenar-me e seguir as leis de Deus. Mas hoje com 29 sinto que foi um erro e que a única coisa que me levou por este caminho foi o facto de esconder a minha homossexualidade.
Como é que eu ia explicar ao meu pai que gostava de homens? Eu sei que ia ser um desgosto enorme para a minha mãe. Toda a minha família me iria tratar como lixo. Ninguém percebia, nem eu, como é que um homem pode gostar de outro homem. Sempre fui educado a ser contra o aborto, contra o casamento homossexual e mais uma serie de coisas que a Igreja defende e que eu não entendo, nem nunca vou entender. Foi difícil para mim aceitar-me, mas hoje cheguei ao meu limite. Desde que sai do seminário onde fui ordenado passei por várias paróquias. Sempre dei o máximo pelas pessoas que acreditam na palavra de Deus. Agora estou numa paróquia nos arredores de Lisboa e desde que vim para aqui o mundo da luxúria chama por mim. O que tenho feito repugna-me, é uma confusão imensa na minha cabeça, mas acontece.
Quase todas as noites desde que aqui cheguei pego no meu carro e vou passear mas apenas com uma intenção em mente: ser feliz. 
Vou até um bar conheço um homem e vou para a cama com ele. Realizou-me enquanto pessoa, sinto-me vivo. No final venho-me embora e ao chegar a casa passo horas a rezar e a pedir perdão, e durante esse tempo parece que há uma voz que me diz: "Não estás a fazer nada de errado. Vai ser feliz!". 
Mas hoje algo mais extraordinário se passou. Tenho combinado encontrar-me sempre com o mesmo homem. Ele chama-se Rodrigo, já temos mais que simples relações sexuais ocasionais. Apesar de não saber que sou padre, conto-lhe tudo o que posso sobre mim. Gosto dele, quero estar com ele. É ele que me faz feliz, é com ele que me sinto protegido. Hoje à noite ele pediu-me em namoro. O meu mundo desmoronou. Não sabia o que responder e saí a correr de casa dele. Ele quer repartir o mundo dele comigo e eu engano-o, e pior, engano-me a mim.
Agora estou aqui a escrever e a pensar o que será melhor: Seguir a minha vida de padre e viver assim, ou realmente ser feliz como sou? Na primeira opção sei que vou sentir-me preso a Deus, e não é isso que ele quer pois não? Deus quer amor e felicidade, foi isso que ele me ensinou. Porque que a Igreja coloca tantas restrições? Devemos amar uma pessoa, não a sua sexualidade, não é assim? Sei que se der um giro de 180º a minha vida, e aceitar este pedido do Rodrigo, a primeira coisa que farei é contar-lhe toda a verdade, mas também sei que nunca a minha família irá saber a verdadeira razão por eu ter abandonado a batina.

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