Aprender a Ser Feliz - Parte 1
Acordava todos os dias às 5 e
meia da manhã e ligava o rádio, era a sua primeira companhia da manhã. Ao som
de uma calma música de Edith Piaf, olhou-se ao espelho e reparou que passava
mais um dia da sua vida, onde tudo se mantinha igual. Assim se via Cláudia
Vanessa, de 31 anos, com uma filha por criar e com um marido para sustentar.
Como todos os dias, vestiu as suas meias de licra, colocou o seu baton cor de
cereja, os seus saltos altos vermelhos, o vestido preto que tinha mais de 4
anos, e fez a sua imaginação voar no penteado que escolheu para começar mais um
dia de trabalho. Da casa de banho gritou: “Anita, já tomaste o pequeno-almoço?
Temos que sair”.
Na pequena cozinha, desorganizada,
sobressaia uma toalha cor-de-rosa, em cima da mesa, com o leite, os cereais, e
o café. Anita, a segurar a cabeça com as mãos, ainda ensonada, a tomar o seu
pequeno-almoço respondeu: “Mãe, já estou aqui a tua espera. Quando quiseres
vamos embora”. Cláudia apareceu e sorriu para a filha, que de imediato
retribuiu o sorriso com um caloroso beijo na bochecha da mãe. Enquanto Cláudia
colocava na mala tudo o que precisava, mas antes pediu a Anita que lhe pusesse na
velha caneca, já com várias rachaduras que ia adquirindo com o passar dos anos,
um pouco de café sem açúcar. Cláudia tomou o seu rápido pequeno-almoço e, com Anita,
saíram de casa de mãos dadas. Anita tinha orgulho de sair de casa com a mãe
pois todos a olhavam pela bonita aparência que tinha e Anita sentia-se vaidosa
por ter uma mãe tão bonita.
Já atrasadas, como de costume,
andavam em passos acelerados pelos passeios de Carcavelos. Ainda o sol não
tinha acordado, e os sapatos de saltos altos de Cláudia ecoavam pela rua ainda vazia
de gente. Não havia dinheiro para o autocarro e ambas já se habituaram a
caminhar de manhã até a escola de Anita. Diziam elas que este passeio era bom
para os glúteos.
Anita e Cláudia eram muito
cúmplices. Anita era uma menina muito bem-disposta e apesar da tenra idade
percebia perfeitamente que a vida dos pais não tinha sido a melhor e que, por
isso, não podia ter ténis de marca, ir ao cinema com as amigas, comprar umas
gomas quando lhe apetecia. Esta forma de entender as contingências da vida
devia-se muito também ao facto de a mãe não lhe esconder nada do que se passava
a sua volta. O caminho que faziam juntas até a escola de Anita era o momento
delas. Eram onde trocavam confissões, eram onde choravam, onde Cláudia ajudava
Anita a estudar, fazendo várias perguntas sobre o tema do teste. E o dia de
hoje não foi excepção. Enquanto caminhavam Cláudia questionava: “O primeiro rei
de Portugal foi?” e Anita respondia: “ D. Afonso Henriques”. E as perguntas
sucediam-se: “Em que ano nasceu o Condado Portucalense? E o país Portugal?”.
Anita muito confiante retorquia sem hesitação: “O Condado Portucalense nasceu
em 868 d.C e existiu até 1139. Portugal apareceu em 1139. Com 16 anos D. Afonso
Henriques quis concretizar o desejo do pai de tornar o Condado Portucalense
independente do reino de Leão e Castela. Nesta altura, D. Teresa mantinha uma relação amorosa com um fidalgo
galego, o conde Fernão Peres de Trava. Esta relação prejudicava a ambição de
tornar o Condado Portucalense independente. Por isso, apoiado por alguns nobres
portucalenses, D. Afonso Henriques revoltou-se contra a sua mãe. Em 1128, D.
Teresa é derrotada na batalha de São Mamede por D. Afonso Henriques,
que passa a governar o Condado Portucalense.” Cláudia orgulhava-se da filha por,
apesar de todas as dificuldades, ter alguém em quem confiava e em quem podia
ter a certeza que teria um futuro melhor que o dela.
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