Aprender a Ser Feliz - Parte 2
Depois de a deixar na escola, onde se despediam com um beijo e um
abraço. Cláudia seguia viagem pelas ruas já mais movimentadas de Carcavelos.
Era um hábito passar ali todos os dias que já saudava com um alegre “Bom Dia!” as
senhoras, já reformadas, que se encontravam penduradas no balcão das suas
janelas a conversarem. Não havia dia em que ou era atropelada por um triciclo
de um neto de uma dessas senhoras ou que tivesse que dar um pontapé numa bola
com os quais os meninos do bairro jogavam felizes e livres. E ela sempre
bem-disposta retribui-a um “Desculpe Senhora” ou um “Obrigado” com um sorriso
maternal.
Cláudia continuava a caminhar, ela tinha que estar em Estoril às 12. No
caminho o telefone tocou, mas de início ela nem deu conta. Anita, como sempre,
pregava-lhe partidas, e hoje tinha-lhe trocado o toque do telemóvel e enquanto
as pessoas iam passando por ela, só se ouvia: “Se te portas mal vai haver
terror/ Se te portas mal vais sentir dor/ Se te portas mal ai por favor…/ Vou
ter de te dar e tu vais levar pancadinhas de amor”. Depois da vergonha inicial,
Cláudia pegou no telefone, sorriu, e atendeu. “Estou?” disse Cláudia ao ver que
o número era do hospital, enquanto parou a sua caminhada. Do outro lado alguém
dizia algo com o que a mãe de Anita só anuía. Depois de muito ouvir só disse:
“No final do dia eu passo ai e resolvo esta situação.”. A chamada terminou,
Cláudia levou às mãos a cabeça ela não sabia como resolver o problema que
tinha. Apetecia chorar, mas logo depois lembrou-se da brincadeira da filha e
pensou para si mesma enquanto olhava para o telemóvel: “Hoje vai custar, mas
vou fazer das tripas coração para teres o que comer ao jantar”. E a caminhada
continuava. Num passo mais acelerado. Enquanto isso ligava a alguém. “Preciso
de fazer trabalho duplo hoje. O dinheiro faz-me falta. Vê o que me arranjas.” E
ao proferir estas palavras Cláudia sentiu as lágrimas caírem-lhe pelos olhos.
Não se orgulhava de ter que se prostituir para criar a filha e um marido. Mas a
vida não era fácil para esta antiga cabeleireira. Ela viu o seu salão arder,
desaparecer por um incêndio provocado no restaurante do lado, por um dos
sócios, enquanto ainda tinha empréstimos de vários produtos por pagar. Não se
pode reerguer e recorreu a prostituição, para não ter que roubar, e para dar de
comer a filha.
Enquanto pensava na vida e chegava à casa do primeiro cliente, limpou as
lágrimas e sorriu. Pensou: “Tudo está bem!” e foi aborda-lo. “Olá Hugo”,
disse-o baixinho de forma erótica ao seu ouvido. Hugo, seu cliente há mais de
dois anos, era casado, tinha dois filhos, mas algo o atraia em Cláudia. Por seu
lado Cláudia detestava Hugo, era um homem desprezível. Bancário, estalava os
dedos e tinha tudo o que queria. Sem hesitações Cláudia foi para o quarto, já
conhecia bem o espaço, e Hugo foi atrás dela. Pelo caminho até ao quarto,
Cláudia foi-se despindo, tirou um sapato, depois o outro, tirou uma das meias,
a outra. Hugo, atrás apreciava tudo e o desejo de a possuir só aumentava. Ao
chegar ao quarto Cláudia já só estava de soutien e cuecas. Ao entrar, Hugo
estava de boxers e Cláudia na cama a espera dele, que não hesitou quando ela a
chamou para ir para a cama. Hugo rapidamente a beijou, tinha um forte desejo
por ela, beijava-a nos pés, subia pelas suas pernas, com a boca tirou-lhe o
soutien e continuava a percorrer o seu corpo esbelto. Ao ouvido sussurrou-lhe
“Eu amo-te”. Cláudia afastou-o. Hugo continuou: “Eu amo-te Claudia, desde o
primeiro momento em que te vi. Se me dissesses para largar tudo, mulher, filhos
e casa eu largava e ia viver contigo para debaixo da ponte. Tudo o que eu quero
és tu.” Cláudia confusa contestou: “Tu não sabes o que estás a dizer. Se
vivesses como eu vivo não dizias isso. Vamos fazer o seguinte: Eu vou esquecer
que me disseste isso. Vens aqui e cumpres como um homem, no final pagas-me e eu
vou-me embora.” Hugo triste interrompeu-a: “Mas…” Contudo Cláudia não deixou-o
continuar: “Hugo, é isto ou nada. Nunca mais.”. Apesar de lamentar Hugo não
queria desaproveitar a oportunidade de a possuir e, por isso, fizeram amor na
cama, no chão, enquanto tomavam duche juntos. No final Hugo pagou-lhe e
despediu-se com um beijo na testa dizendo: “Tu ainda vais ser minha.”
Cláudia estava a almoçar. No entretanto já tinha recebido uma mensagem
da morada do cliente para a tarde. Era novo. Ela não o conhecia. Mas até era
perto do local onde almoçava. Como ainda tinha tempo foi dar uma volta pelo
centro comercial, ver aquilo que gostava de ter para ela e para a filha mas não
podia comprar. Entrou numa das lojas que mais gostava, numa loja de bolsas. As
empregadas já a conheciam e nem a abordavam, como fariam naturalmente com uma
cliente. Ela observava, tocava, mas não podia levar. Suspirava só por as ter em
mãos e lembrava-se da quantidades de malas que tinha e que vendou para colocar
dinheiro em casa.
Saiu do centro comercial para ir de encontro ao 2º cliente do dia. Ao
chegar tocou à campainha e perguntou pelo Srº Drº Ribeiro. Ele próprio veio
abrir. Disse-lhe para estar a vontade que estava sozinho em casa. Ela deu-lhe
dois beijos na cara e cumprimentou-o com um “Boa Tarde”. O Ribeiro estava
constrangido, nunca tinha feito sexo à pagar e notava-se que não estava à vontade
com a situação. Ele, envergonhado, perguntou: “Como é que faço?”. Cláudia
sorriu e afirmou: “Está a vontade. Eu sei o que estás a sentir. Já vi muitos
casos assim. Quero que relaxes. Tens algo para beber? Ajuda.” Ribeiro sorriu,
por estar a ser tão bem tratado, pensando que iria ser algo mais frio, e
respondeu: “Tenho sim, vou buscar. Um whisky, pode ser?”. Cláudia anuiu.
Ribeiro regressou com dois copos, brindaram e beberam. Cláudia e Ribeiro
conversavam e ela começou a passar as suas mãos pelos cabelos do cliente para
tornar a conversação mais intima. Foi então que Cláudia perguntou o porquê de
ele recorrer a prostitutas. Ele triste disse: “Esta casa é enorme, tem 5
quartos, 4 quartos de banho, uma cozinha maior do que muitas casas que eu
conheço, no entanto e, apesar de tanto espaço vivo aqui sozinho. Construi esta
casa para a minha mulher, para os meus filhos e todos me deixaram. Eles foram
fazer a vida deles, a minha esposa, foi uma vadia abandonou-me por um homem
ainda mais rico. Ele prometeu-lhe uma vida de luxo. E eu pergunto-me, mais luxo
que isto?” Cláudia estava a sentir-se triste por ver um homem sozinho assim e
ao mesmo tempo por ela e a família não terem a oportunidade de terem um quarto
do que este homem tem. Mas como ela tinha que ser fria e pensar no dinheiro
sorria e apenas dizia: “As coisas vão melhorar, podes ter a certeza. Tudo se
vai encaminhar e os teus filhos não se esqueceram de ti.”
Realmente VIVER é um aprendizado, um pouco a cada dia, de forma sagaz... sempre querendo aprender mais e mais sem pensar em desistir...
ResponderEliminarUm grande abraço!!!